O "Animal..."
O cérebro humano,é uma das estruturas mais interessantes originadas pelo processo da selecção natural...
As suas faculdades incríveis de realizar algo que transcede a biologia,como a criação da cultura por exemplo.
Ele é enigmático porque possui uma dimensão primitiva,irracional,que influência bastante o nosso comportamento nas nossas vidas...
Mas por que existe esse primitivismo?
De acordo com a teoria da evolução, as estruturas que concedem vantagens evolutivas para uma espécie tendem-se a reproduzir.
Lentamente uma espécie vai passando por modificações, até que, após milhares de anos, pode surgir uma nova espécie.
Contudo, as espécies que descendem acabam por herdar as estruturas dos seus antepassados, pois elas passaram pelo "teste" da selecção natural.
Se uma característica ou órgão desaparecem, diminuem logo as possibilidades de sobrevivência.
Se não desaparecerem, a espécie é que pode acabar por ser extinta.
Várias podem ser as soluções estratégicas para a sobrevivência das espécies, e cada uma destas estratégias leva em conta a herança e as modificações provocadas pelo ambiente.
Por exemplo, se num determinado ecossistema houver o aumento do número de predadores, haverá uma modificação no número de presas.
Quando estas escassearem, os predadores que tiverem mais facilidade para se adaptar ao novo contexto de presas escassas terão mais possibilidades de sobrevivência...
As espécies menos flexíveis terão as suas populações diminuídas.
Com o aumento da complexidade da natureza, o processo da selecção natural acaba por constituir caminhos interessantes como alternativas de sobrevivência.
A cooperação parece ser uma destas vias.
As espécies que cooperam utilizam formas colectivas de proteção e aviso, e isto faz com que a colectividade passe a se assumir como um tipo de "superorganismo", capaz de realizar funções que individualmente não seriam possíveis.
Um exemplo deste tipo de organização são as abelhas.
Outro exemplo, os seres humanos...
No caso da nossa espécie, contudo, a composição é bastante interessante: ao mesmo tempo que somos capazes de cooperar, temos uma "herança" animal de comportamentos predatórios.
É óbvio que este comportamento teve vantagens evolutivas, pois de outra forma não poderiam estar presentes na nossa espécie, e é essa combinação que faz com que o nosso comportamento tenha tantas variações.
Ao mesmo tempo que somos capazes de construir comunidades, como espécie somos incapazes de deixar de lado comportamentos altamente destrutivos como o preconceito e as guerras.
Se a evolução manteve um repertório de comportamentos predatórios, também favoreceu o surgimento de outras estruturas que permitiram o aparecimento do pensamento, da racionalidade e da linguagem.
O mosaico está formado.
A irracionalidade dos nossos comportamentos remonta às estruturas mais primitivas do funcionamento cerebral, enquanto que o pensamento e a linguagem remontam às estruturas mais recentes.
Isso explica por que os bebés choram antes de aprender a falar.
Durante o processo de desenvolvimento do organismo, gradualmente o lado primitivo do nosso comportamento passa ao controlo, ao menos parcial, dos aspectos racionais, e esse movimento permite a conquista da socialização, da mesma forma que as estruturas sociais são condicionadas por elementos irracionais.
Mas nunca abandonamos a forma de agir "animal"...
Isto aparece quando o tom emocional de alguma situação exige mais do nosso aparelho racional do que ele pode dar.
Nesse momento, o "animal" que há em nós desperta...
(em "Quem somos")
Publicado por catavento.
12 de novembro de 2008.
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